O Lan House do Purgatório traz hoje pra vocês uma entrevista exclusiva e reveladora com um ator pornô profissional em atividade no mercado brasileiro. Daniel Lovestrong concordou em conversar comigo e com Ludivon e autorizou que gravássemos sua voz para produzir um podcast da entrevista.
Suas únicas exigências foram manter o nome verdadeiro no mais absoluto sigilo e disfarçar o áudio com aquele efeito medonho de voz de pato. Atendemos o pedido, mas a lhama de estimação da Lud devorou a fita K7 (cof cof), e, por isso, não vai rolar podcast. Mas como isso só aconteceu depois da transcrição das falas, o conteúdo da entrevista foi preservado.
Com vocês, a íntegra desta surpreendente conversa:
Aleléx: Como é ser ator pornô? É lecaus?
Ludivon: (olha para Aleléx sem acreditar na imbecilidade da primeira pergunta)
Daniel Lovestrong: É uma bela bosta. Eu sei que você vai dizer: “Ah, conta outra, mew! Você deve ter o maior luluzão e ainda ganha pra fazer zéguizo! saycu”. Olha, isso é verdade, mas ser profissional não tá com essa bola toda que a galera imagina. Estou no ramo há quase cinco anos e, apesar de às vezes até ser divertido, a maior parte do tempo é um estresse filho da puta. Claro que, no geral, é maneiro ficar ali, na moral, com as minas, e tals. Mas o dia-a-dia da miséria, mew… acaba com você. Aí você me pergunta por que eu faço isso, e eu…
Ludivon: (interrompendo) exatamente! se é tão saycu por que você faz a miséria então, gemza?!
DL: Olha, pra quem chegou no meu nível, a grana até que é boa, embora não seja nenhuma fortuna. Nosso trabalho é fazer sexo, né. Bom, mas a verdade é que alguém tem que fazer e não é qualquer um que dá conta do recado com todas aquelas luzes em volta, a equipe de filmagem, o diretor berrando “soca mais forte, fagundes!” Honestamente, não vou negar: é bem melhor que trabalhar no McDonald’s, que era meu trampo anterior. Eu sei que, mais cedo ou mais tarde, vou acabar fazendo coisas mais tranqüilas. Mas, por enquanto, continuo na batalha aí mesmo, apesar de ser essa bela xuca azeda que eu já disse.
Aleléx: Pô, você já falou que acha uma bosta, mas ainda não explicou por quê…
Ludivon: É, mew, explica por quê…
DL: Vou explicar, vocês vão entender. Primeira coisa: Você é OBRIGADO a fazer sexo. Eu sei que parece maluquice – é pra isso que estamos ali –, mas é verdade. Pensa junto comigo: pode até ser que você viva excitado o tempo inteiro – eu vivo -, mas isso não significa que vai querer trepar o dia inteiro. A gente quer trepar quando tá a fim, certo? Não quando “está na hora”, toda hora! Digamos que seja duas da tarde. Ou sete da manhã. Tem oito pessoas no estúdio – você, o diretor, a menina com quem vai “trabalhar”, o câmera, o cara da iluminação, o maquiador, e sempre tem um outro cara que você nunca sabe pra que serve – e, de uma hora pra outra, tá na hora de socar o fagundes. VAI! Quer dizer…
Aleléx: Hum, tô começando a entender…
Ludivon: (ainda não convencida) Seja mais específico. Conte algum problema para que possamos entender melhor a miséria toda.
DL: OK. Fazer o fagundes levantar, por exemplo. O pesadelo de todo homem não passa de um probleminha meia-boca num set pornô. Claro, porque hoje em dia tem montanhas de Viagra e Cialis, e parece que, pronto, resolvido o problema. Mas existem efeitos colaterais de ficar tomando esse tipo de medicação com tanta freqüência.
Aleléx: Tipo…
DL: Porra, o primeiro deles é que o corpo desenvolve resistência ao princípio ativo se tomar demais. Aí, com o passar do tempo, você pode derrotar uma mão cheia de pírolas que vai ter zero de efeito. Quer dizer, do efeito desejado, porque as dores de cabeça serão de fuder e ainda corre o risco de perder a visão. Aí é duro, né, colhega? Sem trocadilho. Chegou nesse ponto, só te resta aplicar injeções direto no fagundão – com agulha mesmo – usando uma medicação líquida mais forte. E, com o tempo, ele vai ficando todo espetado na base…
Ludivon: (sente náuseas)
Aleléx: (sua frio)
DL: Só o Exu Tranca Xuca da Sétima Buatchy sabe que outros efeitos miseráveis aquela droga pode estar fazendo no corpo, mas a gente tem que fazer a cena, né?
Aleléx: Mew, que barra…
DL: Nem me diga, meu chapa.
Ludivon: gemza (mexe no cabelo)
Aleléx: Bom, você está começando a me convencer, mas, é só isso? Que outros problemas pode haver?
DL: Só isso? Você tá de brinks com a minha cara. Mas eu te digo o que mais pode haver. Os homens que trabalham nesse ramo ganham muito menos que as mulheres. Que tal essa? Cada atriz pode levar de R$ 900,00 a R$ 1.200,00 por cena, dependendo do número de caras com quem ela vai ter que “contracenar” e da modalidade de porcaria que vai ter que fazer. Tipo: penetração dupla, penetração tripla, ménage, anal, candelabro-vienense, essas misérias. Quanto você acha que um cara ganha? Em média, R$ 500,00!!! É verdade que pode ser mais, principalmente se você já tem um nome, seu fagundes for conhecido… Mas a mentalidade é a seguinte: mew, você já tá trepando com uma atriz pornô toda boa, dê-se por satisfeito de ainda estarem te pagando alguma coisa por isso!
Ludivon: hahahahaha
Aleléx: Pô, até que faz sentido rs
DL: Cês tão me sacaneando? saycu. Não é justo. Depois que a gente fez o que tinha que fazer, e lambrecou tudo lá, e rolou legau, é maneiro. Mas quando você sai dali e percebe que não vai dar pra pagar nem uma prestação inteira daquela Jacuzzi que você comprou pra relaxar em casa e já tem que filmar novamente só pra poder pagar a próxima parcela do refinanciamento da sua dívida do cartão… aí já começa a perder a graça.
Aleléx: É, tá me convencendo de novo…
Ludivon: Acho que tá faltando falar mais de putaria, tá ficando muito técnico. Conta algo ali do vamo-vê que todo mundo acha que é legal mas nem é.
Aleléx: Boa, Lud!
DL: Fácil. Podemos falar da “pontaria”, por exemplo. Quando tá na hora do fagundão disparar, o diretor quase sempre quer que você acerte o rosto da sua parceira. Não tem nada pior do que você ter acabado de fazer uma cena no capricho, tudo certo, pra no finalzão, ela preparadona lá, língua de fora, geral na expectativa, e o troço dispara pro lado errado, vai parar na outra parede, no teto, na putaquepariu, mas no rosto dela, que é bom, só pega uma gota que a câmera nem capta! O diretor berra “CORTA!” e, em geral, manda repetir.
Aleléx: Mas dá pra fazer isso?!?
Ludivon: -q
DL: Cara, a gente tenta, mas é foda, e nem dá pra pedir um pinto novo emprestado, né. A auto-estima sai arranhada.
Aleléx: Poha, que bad. Ah, mas contracenar com aquelas meninas lindas, cada corpão que não é toda hora que se vê por aí… Tem que ter o lado bom, mew!
DL: Bicho, você tá por fora. Isso até pode acontecer, mas não é bem assim. Olha. Acredite se quiser, nesse meio também tem os gostos de cada um. Você pode não gostar daquele silicone todo, aquilo pode ser uma maldita arma branca, quicando perigosamente pra todo lado, e, se te atingir no contra-golpe, a pancada pode ser violenta e machuca! E você pode se ligar só em morenas, ou louras, e a menina não é do seu tipo, ou te lembra a tua irmã! Pode ser gorda demais, magra demais, alta demais, musculosa demais… você entendeu.
Aleléx: Uhum.
DL: Não importa se você ODEIA ela, ou a cara dela, ou o cheiro dela, ou o gosto dela – tem que encarar e dar conta do recado ou vão colocar outro paspalho no seu lugar. Mas até pode acontecer de você dizer que não vai dar, que não rola mesmo. Mas aí você acaba com fama de “cara difícil”, “cara pentelho”, “não dá pra trabalhar com esse aí”, e, com o tempo, os escaladores de elenco vão parar de te chamar. É um problema real, é sério, e pra não cair nessa tem que ter controle mental de Samurai, imaginação de Júlio Verne, poder de concentração de mestre Jedi.
Ludivon: ai vocês homens são tão visuais…
Aleléx: Fato. Bicho, eu nunca tinha pensado que podia haver tantas dificuldades assim.
DL: E tem mais. Você tem que ser Garanhão modelo Frescura Zero: pode ser que a cena seja um ménage: você, a menina e outro cara. Se rolar penetração dupla, é ctzzz que seu fagundes vai no mínimo roçar no pinto do outro. Brrrr. Também não é nada confortável quando o cameraman tem que debruçar por cima de você, praticamente apoiado nos seus ombros, pra tentar pegar um close radical da menina que está com seu saco inteiro na boca. E você não gosta de sexo anal? Azar o seu. Não é grande fã de suquinho de lelé? Dane-se! Eu, por exemplo, odeio quando tenho que levantar a menina do chão e sair bufando pelo cenário, arrastando ela pela parede, pela pia da cozinha, por cima do armário, por trás do tanque… Eles não querem saber. Faça o serviço ou ceda o lugar pra quem estiver disposto, a fila lá fora é grande.
Ludivon: Tô começando a ficar com pena de você, de verdade.
Aleléx: Eu também. Estou até com medo de prosseguir a entrevista…
DL: E eu mal comecei. Faço questão de dizer, por exemplo, uma coisa que quase ninguém fala. Publica isso aí. As miseráveis machucam nosso pinto! Porque, não se esqueça, elas também querem passar a impressão do máximo de empolgação, entusiasmo, tesão. A carreira e o cachê delas também estão em jogo o tempo todo, como o nosso. Aí, o que é que acontece?
Aleléx: meda de perguntar
DL: Mas eu lhe digo! Ela morde a coisa com vontade! Mete os dentes! Bate uma munheta com o máximo de força e velocidade que ela consegue, chupa o que tem que chupar igual um desentupidor de pia miserável movido a diesel! É isso que ela faz.
Ludivon: nhaim…
DL: Sim, eu sei. E é quase impossível dizer pra ela parar de fazer alguma coisa que te machuca, ou que te deixa desconfortável, porque provavelmente vai melindrar a moça. Às vezes, ela simplesmente não saca o que pode haver de mal, ou, se saca, não dá a mínima. Pra ela tanto faz. E você não pode contar com a solidariedade do diretor, nem de ninguém da equipe. Afinal, o que está sendo triturado como se fosse numa máquina de moer carne é o seu pinto, e não o deles.
Aleléx e Ludivon: (silêncio constrangido)
DL: E eu ainda tenho um agravante. Por causa de uma promessa, estou sempre com o anel peniano do meu Exu Protetor, gravado com o nome dado por meu Santo de Cabeça: LOVESTRONG. Meu anel peniano é como um talismã pra mim, ele me protege. Não tiro nunca, e às vezes é ainda mais desconfortável por causa disso. Posso mostrá-lo se vocês quiserem.
Ludivon: Não será necessário.
DL: Enfim… Ah! E tem também os ângulos! Os malditos ângulos! Tomadas radicais, flexões acrobáticas presse ou praquele lado, tudo pra que a câmera consiga mostrar o que o público pagante quer ver: o fagundes socando forte na xoxoquinha. Uma coisa bacana e agradável na vida real simplesmente não funciona nos filmes, aí a gente é obrigado praticamente a se dobrar no meio pra conseguir a imagem perfeita, e, acredite: dói. Tem horas que parece que o pinto vai quebrar. Não é de admirar que haja tantos por aí tortos e estropiados. Fora os problemas de coluna.
Aleléx: (visivelmente arrependido de ter proposto a entrevista) Bom, vamos encerrando, e gostaríamos de pedir suas considerações finais. Alguma pergunta final, Lud?
Ludivon: (pigarreando) Sei que vou me arrepender, mas gostaria de saber qual é o seu maior medo, trabalhando nesse mercado.
DL: Bem, como vocês viram, por fora parece divertido, mas acho que consegui mostrar que o mercado pornográfico é dureza e nem sempre compensa o tanto que a gente se esfalfa. Meu maior medo, trabalhando nesse mercado, é que meus amigos e minha família descubram o que faço pra viver. Acho que esse é o último grande motivo por que ser ator pornô é uma bela de uma bosta. Mas, até eu conseguir terminar a faculdade, é a única coisa que sei fazer, e acho que o jeito é continuar encarando. Pelo menos, as pessoas não costumam prestar muita atenção na cara do dono do pinto, né?
Aleléx: Verdade.
Ludivon: (tosse)
Aleléx: Bom, quero agradecer em nome dos leitores do blog pela entrevista. Concluímos aqui mais um serviço que acreditamos ser de utilidade pública, e esperamos que tenham gostado. Muito obrigado, e até a próxima.
Ludivon: Beijos, galere.
DL: Eu que agradeço a oportunidade.
Entrevista realizada nos estúdios Lan House do Purgatório Hall. All Brinks Reserved © 2008
Repórteres: Aleléx e Ludivon